Novamente, não.

Na quinta-feira da semana passada comecei a sentir minha garganta incomodar. Não precisei de muito para perceber que, mais uma vez, iria sentir novamente aquela aflição: a sensação de que a vida me está por um fio, embora esse seja resistente o suficiente para não arrebentar; o cansaço de não saber o que fazer ou esperar; e o medo, o medo que me faz relembrar todos os dias o lugar para onde eu não quero voltar. Quem convive comigo, minha mãe principalmente, vislumbra facilmente todos esses sentimentos que se apossam do meu coração.

Hoje, começando o sexto dia de um tratamento que inclui comprimidos antialérgicos, três a quatro sessões de aerosol por dia, lavagem constante do nariz e as permanentes sessões de fisioterapia (três por semana) e acupuntura (uma vez por semana), eu me sinto melhor - física e emocionalmente falando. "Graças a Deus é só mais uma crise alérgica", eu me agarro a esse pensamento. Mas, agora a pouco, ao levantar da cama e ver minha imagem refletida no espelho do banheiro, olhei sem querer para a cicatriz que ficou no meu pescoço, e novamente pensei "não, eu não quero viver tudo aquilo de novo."

Como o sinal de que tive uma parada respiratória e precisei passar por uma traqueostomia, essa marca me lembra diariamente o quanto a vida da gente pode ficar muito mais difícil (embora na maioria das vezes a gente nem se dê conta disso). Coisas simples que fazemos, quase sempre no automático, podem se tornar quase impossíveis de serem realizadas pelo simples fato de não termos mais a autonomia sobre a nossa própria respiração.

Não poder falar, comer, beber... Tudo passa a exigir um esforço e um cuidado vital de nossa parte!! E ninguém sabe o quanto eu senti falta disso lá no hospital... O quanto foi difícil, constrangedor em alguns momentos, estar ali... Por  isso, por Deus, não. Eu não quero passar por tudo aquilo novamente, falo isso constantemente desde que voltei pra casa. Todos já sabem que tenho medo sim, e eu não o nego. Não quero perder minha fatia de liberdade. Ela pode não ser tão grande, ainda, mas é uma das coisas que me mantém viva - emocionalmente falando!