Na proteção do frio é que a Esperança vive e faz viver

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Penso que poucos corações chegam a ser tão contraditórios quanto o meu. Eu sinto, e sinto muito, mas dificilmente demonstro. E essa inaptidão com certeza foi o alicerce que construiu minha fama de fria, uma opinião alheia que, sinceramente, eu nem faço tanta questão de negar ou combater. Se tem uma coisa que eu aprendi foi sobre os meus sentimentos: eles são meus e pronto, não tenho porque explicá-los ou mesmo justificá-los para quem quer que seja. Todavia, vez e outra eu sinto a necessidade de mostrar para quem realmente me é importante, que as palavras de Jobim me caem feito luva, que em baixo dessa neve mora um coração, sim. Um coração que nesse momento está cansado.

É desgastante nos sentirmos sempre caminho e nunca destino. É difícil e dói nos sentirmos ponte e nunca porto. É vazio, é solitário, é triste. E por mais que a razão nos diga que nos deixarmos abater por algo assim é bobagem, a angustia permanece sufocando-nos o coração já tão cansado de chegadas e partidas, já excessivamente calejado de promessas e palavras vazias. De ilusões.

O momento presente é de trégua, de recolhimento até. A hora agora pede que se deixe nevar, nevar o bastante para que um escudo protetor se faça novamente sobre esse meu bobo coração. Você precisa se cuidar, moço. As marcas que já adquiriu não te parecem suficientes para a história de toda uma vida? O que mais você quer depois disso tudo? Se jogar de novo, talvez como fez no passado que te trouxe ao momento que você vive agora? Toma cuidado, pequeno. Você é forte, mas não é insensível como deixa transparecer. É justo que você se mantenha aquecido pela chama da sua esperança, mas é tolice se desproteger e deixar queimar pela chama alheia. O fogo, o teu, te mantém vivo. Qualquer outro, porém, te dói. Não esqueça isso! Eu agradeço.